quarta-feira, 30 de junho de 2010

EU NÃO PRESTO

Eu não presto
 E meus sonhos enovelados
 Nos concílios de estilhaços insondáveis

 Prisioneiro da ilusão
 O meu coração estraçalhado
 Explode no espaço sideral indistintamente

 Eu não presto
 Neste louco revoar literário
 Como uma membrana visceral nos trilhos

 Eu não presto
 E não funciono exceto na mente
 Como os gloriosos festivais de cantos surrealistas

 Desintegram-se imaginações
 E eu sofro de vícios no meu labirinto
 Em ingentes loucuras escarpadas umedecidas no tédio

 Eu não presto
 Na fragilidade das minhas dores
 E encoberto de trapaças cotidianas sou andrógino...

(por Fabiano Montouro)

JARDIM SUSPENSO

Sou um jardim
 Suspenso em flores despetaladas
 Do meu triste outono.
 Sou os espinhos das rosas
 Espetando a minha breve esperança
 De amar mais uma vez
 O amor antigo.

 Sou um jardim
 Suspenso no aroma intragável
 De o meu triste navegar.
 Sou os galhos retorcidos
 Das árvores maquiavélicas
 No jeito de folhar
 O infinito vácuo do meu olhar...

 Sou um jardim
 Suspenso na fragrância indispensável
 De florir o condomínio,
 Cheio de mentes distorcidas
 No ópio das coisas...
 Sou os troncos endurecidos
 Das árvores anciãs!

 Sou um jardim
 Suspenso no colorido diverso
 De flores adversas.
 Sou as raízes profundas
 Que vegetam
 No subsolo da humanidade:
 Sou o vago!


 Sou um jardim
 Suspenso em margaridas gentis
 Em florir a minha vida
 Mórbida de longas tristezas...
 Sou as folhas desfolhadas
 Se espalhando pelo chão de concreto
 Das madrugadas.

 Sou um jardim
 Suspenso de violetas vaidosas
 Vislumbrando o limo
 Da minha mente ausente e febril.
 Sou um passarinho
 Que pousou no meu galho
 E depois sumiu...

(por Fernando Pellisoli)





EU-PATÉTICO

 Eu sou a arte
 Inviável de resolução
 Na indigesta infelicidade.
 Eu sou a parte
 Intempestiva do dia ameno
 Que me assovia
 Uma canção de tristezas
 Irreparáveis.

 Eu sou o enfarto
 Adiado na ilusão que mente,
 Sob um coração
 Atrofiado de desamores
 Inapreensíveis.
 Eu sou o estandarte
 Enfiado no ventre
 Da desilusão amorosa
 Incessante.

 Do orvalho úmido
 De distâncias incomensuráveis,
 Eu sou o cotovelo
 Da vida irremediavelmente
 Imprópria ao uso
 Inconsistente da volúpia
 Insaciável...

(por Fernando Pellisoli)

VISÃO TURVA

 Não vejo mais
 O meu castelo de areia,
 Nem vejo mais em mim
 A alma que se desmancha.
 Não vejo mais as estrelas
 Que são sóis vistos de perto.
 Nem vejo mais o amor
 Nos meus olhos encerrados.
 Não vejo mais
 O sorriso destas flores
 Que são tristes e murchas,
 Nem vejo a rua...

 Não vejo mais
 A lua dos namorados,
 Nem vejo a cidade maravilhosa
 Dos meus sonhos
 Que viraram pesadelos...
 Não vejo mais o mar
 Na impetuosidade dos surfistas,
 Nem vejo um olhar
 Que me faça renascer
 Das cinzas do meu funeral.
 Não vejo mais
 O teu sexo ausente!

 Não vejo mais
 Os suspiros dos cisnes
 E as baladas da noite,
 Nem vejo a beleza
 Do teu corpo de sereia.
 Não vejo mais
 A alegria no meu verso,
 Nem vejo o coração
 Pulsar dentro do peito.
 Não vejo mais
 A luz que ilumina
 Os meus ais!

 Não vejo mais
 O interesse das coisas,
 Nem vejo o profeta
 Anunciar um novo mundo?
 Não vejo mais
 A ecologia governar
 Os destroços da natureza,
 Nem vejo o amor
 Começar na libido
 De uma nova história.
 Não vejo mais
 A minha inocência...

(por Fernando Pellisoli)






DESCRIÇÃO DA MUSA

 Descrever
 A Musa dos meus versos
 É como imaginar
 A forma indefinida de Deus
 Na sua infinidade.
 A silhueta era perfeita,
 E a boca pequena e carnuda.

 A bunda era redonda
 E os seios eram não muito pequenos.
 E as pernas bem torneadas
 Contracenavam
 Com as coxas roliças,
 E a cintura era toda fina.

 Os olhos eram negros
 E as orelhas bem formadas e pequenas.
 E o nariz uma graça, arrebitado.
 Os cabelos eram longos
 E lisos e castanhos escuros.
 As mãos e os pés
 Eram de rainha e marcantes.

 Os braços
 Eram meigos e afetuosos,
 E o desenho do corpo inteiro
 Igualava-se ao entalhe vigoroso
 De uma escultura grega.

(por Fernando Pellisoli)

MINHA DEPRESSÃO

 Se eu me revelo
 Nesta inconstância destrutiva,
 É que eu sou tempestade
 Varrendo vendavais.
 E depois, descubro
 Que eu sou quase o Nada:
 Apenas um cisco...

 O vento
 Não sopra a minha cabeça
 Empoeirada de Tristezas,
 Nem a lua
 Embala o meu coração:
 Sou o erro trágico
 Da Ilusão!

 A psiquiatria
 É a mãe da insistência
 Onde me escondo,
 Ingerindo os meus controlados
 A três por quatro.
 E o medo de surtar
 É euforia...

 Enfrento o tédio
 (nas minhas horas inválidas)
 Desmiolado,
 Na impaciente espera
 De vomitar o Mundo.
 E minha mãe – ingênua,
 Pensa que eu desdobro o sofrer?

 Perdi o meu Tempo
 Na volição tola e indevida
 Do desamor.
 Perdi o meu rumo
 E a praia de Copacabana
 - cenário do amor!
 Sou apenas uma flor despetalada...

 Viver é impossível
 No absinto da minha loucura,
 No meu pensar ausente:
 Já não sinto alegria
 Pois morro sempre de Tristezas!
 Será que sem o teu assédio
 Eu me procuro?

(por Fernando Pellisoli)










SOBRE A LIBERDADE

 É na Eternidade
 Que eu sou livre pra pensar
 E atravessar galáxias e nebulosas
 Das Vias Lácteas...
 É no sono material
 Que eu sou Espírito livre e radiante
 E na erraticidade estudo.

 Na esfera do Tempo,
 A liberdade é quase nula
 Envolvida na matéria.
 E o Homem é ínfimo prisioneiro
 Da sua própria ambição!
 Deus é testemunha
 Que o poeta não está mentindo.

 É no livre-arbítrio
 Que o Homem se condena,
 Destituindo-se da sua liberdade:
 Se errar é humano;
 O castigo é sobre-humano...
 Deus tenha piedade de nós
 Pecadores!

 O meu sonho
 Da esperada liberdade
 Naufragou no mar das ilusões...

(por Fernando Pellisoli)

INSATISFAÇÃO

Quem vai sanar
 A minha insatisfação do Mundo?
 Como criar a Arte
 Sem o patrocínio dos Mecenas?
 Não posso me debruçar
 Diante do Computador a fazer Poesia
 Literalmente só pra mim...

 O mundo deve ser avisado
 Que eu poeta existo,
 Ainda que vagamente...
 Como não desistir do Mundo
 Se eu sou
 Uma estrela cadente
 Em decomposição?

 O que eu faço:
 Morro!
 Talvez eu preste
 Menos que um fósforo queimado,
 Ou apenas uma vela
 Se derretendo...

 Quem vai sanar
 A minha insatisfação do Mundo?
 Desgosto da vida material:
 Talvez eu seja um anjo sem asas...

(por Fernando Pellisoli)

O MEU QUARTO

 O meu quarto
 É minha prisão domiciliar,
 Onde eu elaboro os meus poemas.
 E fico a sonhar
 Com um mundo menos injusto...
 É onde eu questiono Sistemas
 E leio ALLAN KARDEC!

 O meu quarto
 É o abafo dos meus ais,
 E o meu NOTEBOOK sempre ligado
 Na euforia dos meus versos.
 É o sofrimento tisnado
 Na tristeza escarpada...
 Se sofrer é viver, estou vivo

 O meu quarto
 É uma cama sempre desfeita,
 E um armário com roupas entulhadas,
 E uma pequena estante
 Com uma centena de livros:
 A leitura é um passatempo
 Ao poeta ocioso...

 O meu quarto
 Sou eu assim quase morto,
 Descrevendo a história do HOMEM:
 Sou eu translúcido e louco...

(por Fernando Pellisoli)

LEMBRANÇAS

 Quando eu fui menino,
 Era um poço de candura inocente.
 E o padre pedófilo
 Ainda não o era:
 Ao menos não comigo,
 Pois não tinha o hábito
 De ir à Igreja...

 Quando eu era menino,
 Não tinha Internet nem TV Digital
 Pra entreter o meu pai,
 Nem tinha Telefone Celular
 E nem Pen Drive...
 E não se ouvia falar em tsunamis,
 Nem em desalojados...

 Quando eu era menino,
 Eu estudava muito
 Pra depois sair a brincar,
 Num mundo onírico e de bolinhas de gude.
 Mas eu tinha medo
 Do bicho papão, do lobisomem
 E da Maria sem Queixo...

 Quando eu era menino,
 Eu brincava em roda da fogueira
 Em noites de São João.
 E comia pipoca de nuvens...

(por Fernando Pellisoli)

VERSINHO II

 Sou um fruto podre
 Em cima da geladeira,
 E a luz que se apagou intensa
 De inúteis claridades.
 Sou o choro de criança
 Que se perdeu dos brinquedos
 E da morte do pai...

 Sou a crise econômica
 Negociando os meus desenganos,
 Onde o tempo me ronda
 Intempestivamente.
 Sou o desafeto dos amores
 Na rixa do meio-dia;
 Na desventura da meia-noite...

 Sou a Internet
 Navegando mundo afora,
 Acessando um Site neológico.
 Tudo é indigesto
 Nesta meia-tarde defunta,
 E o gesto não justifica
 Um novo amanhã...

 Sou a lua enamorada
 Enluarando os amantes
 Sem tocá-los.
 E na dispersão da louca vida...

(por Fernando Pellisoli)

MEUS DESTROÇOS

Sou um pasto deserto
 Sem bois, sem cavalos a relinchar
 E uma estrada gorda de pedras
 A me tropeçar.
 Corro o risco de morrer
 Sem ter estado vivo,
 Pois sou o absurdo sem nexo

 Sou uma gaivota sem asas
 Insistindo em voar
 Mais alto que as estrelas.
 E a desesperança letal
 De sempre estar contido
 No universo do meu verso:
 Sou estrofes dos meus destroços!

 Sou um carro enguiçado
 Na praia de Copacabana
 Submerso nas ondas do teu mar.
 E sem nenhum conserto,
 Eu me afogo nas minhas lágrimas!
 Morro no âmago de mim
 E em fora no mesmo instante...

 Sou um fogaréu
 Ardendo os pensares vis
 No absinto das idealidades;
 Mas o corpo já está quase gélido...

(por Fernando Pellisoli)

UM INSTANTE

No verbo eu te amei
 Num instante diante à infinidade do universo
 Da eternidade.
 Fiz-te a minha eterna deusa
 Num instante de oito anos viris,
 Onde o meu sexo
 Sempre te desejava mais.

 O meu coração
 Era cheio de graça e de amor,
 Ainda que a vida fosse dura de roer.
 Estudava o teu sexo
 Na impaciência do gozo insaciável,
 E como era afável
 O teu lindo sorriso de boneca.

 Amei-te (enfim)
 Na sabedoria da experiência,
 Deixando de lado a consistente realidade
 De não ser amado.
 O que passou foi bom demais
 Pra nós dois: talvez
 Eu apenas sofra mais...

 O teu amor acabou
 Na insatisfação momentânea e sem nexo.
 Só o meu amor
 Que madurou o instante...

(por Fernando Pellisoli)

REVOLUÇÃO

Extermínio
 E esquecimento letal
 Do famigerado salário-mínimo

 Em prol da cidadania...

(por Rafael Gafforelli)




CAPITAL

 Capital
 Carnificinas

 Polimorfismo lucífero?

(por Rafael Gafforelli)


ECOLOGIA

 Lodos
 Globalizados

 Lagos rios
 Mares oceanos
 - ondulações putrefatas!

 Terra
 - defunta
 Das queimadas...

 Céu
 Buraco
 Ozônio
 - radiações ultravioletas!

 Enchentes avalanches maremotos terremotos...

 Animais mortos
 Operários inocentes mortos

 - cupidez dos maus!...

(por Rafael Gafforelli)






CIÊNCIA ESPÍRITA

 Deuses religiosos
 Tropeços e débeis cotidianos

 Religiões dogmáticas
 Prolifera um forte ateísmo
 Nos jovens desafiadores de dúvidas?

 Deus espírito matéria
 - translúcida trindade universal

 Na luz do Espiritismo!

(por Rafael Gafforelli)



NOVOS VALORES

 Não jogue pedras
 Nos teus inocentes animais
 É como se eles fossem anjos protetores

 Dos teus descaminhos

 Jogue muitas pedras
 Nos teus perversos políticos
 É como se eles fossem demônios tratores

 Triturando as tuas fraquezas
 No teu estado de coisas fraudulentas...

 Jogue todas as pedras
 Contra a reeleição da corrupção
 No enfrentamento espiritual conscientizado

 Dos teus novos caminhos!

(por Rafael Gafforelli)








RECOMEÇARES

Braços de guerra
 Cruzando sonhos não evoluídos
 E a ribanceira das guerrilhas desativadas

 Espaços meticulosos
 Em turbilhões de tetos tempestuosos
 E as flores murchas em jardins esclerosados?

 Descruzem os fardos
 E refaçam ideais comprometidos,
 Salvando as almas sofredoras de inverdades

 Água na chaleira
 Na ebulição dos cotidianos ferozes
 Simplesmente recomeçando novos sonhares

 Em vigorosos recomeçares!

(por Rafael Gafforelli)



MAFIOSIDADDE

 Neologismo
 Negociações literárias
 Velhacarias animais maçônicas

 Corrupção globalizada!

(por Rafael Gafforelli)

FATALIDADE

Versos mortos
 Suspiros de pele e ossos humanos

 Indiferença gélida gananciosa
 De políticos descomprometidos com o social

 Sorrisos ambiciosos lunáticos
 Assassinando a infância de fome descomunal

 Infanticídios corriqueiros
 Da maldade egocêntrica e maquiavélica

 De pseudoprofetas politiqueiros
 No capitalismo criminalmente cancerígeno

 E brutalmente letal...

(por Rafael Gafforelli)



VIDA

 A prece celeste
 Triste alegria de farsas:
 Tempo varrido vasculhando...

 Vida/sonhos
 Tu és bruxa ou princesa
 Virgindade vendavais apocalipse?

 As varizes dilatadas
 - preto e branco mundinho:
 A mocidade vai-se deste velho manco

 Sem revolução
 Só me resta a morte
 Transcendendo à vida espiritual

 Que é luz e verdade...

(por Rafael Gafforelli)







MAR DE FLORES

 Na virada dos anos,
 Copacabana absorve multidões:
 Rituais profanos espalhados pelas areias

 O Rio é mar de flores
 Início de janeiro – alegrias e dores
 No dançar das mães-de-santo
 No terreiro improvisado

 Iemanjá – rainha do mar
 Fica plenamente envaidecida
 A embalar a homenagem recebida

 Na virada dos anos
 Todos os espíritos são venerados
 Como se fossem deuses...

 Resquícios das crenças antigas
 Sem o advento do Espiritismo kardecista:

 Atualizem-se ó humanos!...

(por Rafael Gafforelli)


ALGUMA COISA

Infinitos em infinitos
 - galáxias nebulosas dimensões:
 Carrossel de emoções poeta apaixonado!

 Alguma coisa é tudo
 E vendavais pressentem corações:
 Cortina aveludada ouro luz da tua remissão

 A tempestade assovia
 O mar embala prantos terrestres:
 Tristeza alegria amor que se cala fulminado

 Este inferno visceral:
 Dias e noites surtando desilusões

 No infinito das dores!...

(por Rafael Gafforelli)






POLÍTICA

 Poder num céu iludido
 Trancafiado em luxuoso gabinete

 Abutre corrupto se derrete como sorvete

 Esta máscara da mentira
 Olvidando a face maciça da verdade:
 Velhacaria sem idade onde cada um se vira!

 Besta, tola e desumana:
 Incorporada ganância materialista
 Desvelando-se em espírito do mal indelével...

 Disseminando a ignorância

 Globalizada...

(por Rafael Gafforelli)


VANGUARDA

 Penso consciente
 - meu domínio da mente

 Revolução desbravando descaminhos

 O meu etéreo pensamento
 Não prende passado em conventos
 E não vive calado nem quando durmo

 O sono dos injustiçados...

 Um pensamento de vanguarda:
 Puro sentimento guarda da liberdade

 Desfigurado planeta Terra,
 Que venha a tua esperada regeneração
 Expulsar os capitalistas indignos e maléficos

 Às esferas inferiores...

(por Rafael Gafforelli)


BARULHOS

 Silencio a noite
 Pressinto passado remoto
 Transpiro açoite poeta predestinado

 Débeis barulhos
 Loucos povos desgovernados
 Estômago embrulho sonhos esfomeados

 Barulhos enfisemas
 - predestino poemas indignados:

 Sonhos idealizados!...

(por Rafael Gafforelli)


CENSURA

Posso falar às claras
 Sobre política sem sucumbir?

 Ou viver algemado
 No exílio dos democratas subversivos?

 A ênfase da censura
 - meu pânico incondicional!

 A velada ideologia
 Na jornada sutil do político-animal:
 Tudo pelas viscerais pós-desinformações
 Da pseudo-realidade...

 Mas se a vida são emoções
 No oceano ensangüentado da idealidade
 Preciso revolucionar os meus discursos poéticos?

 Vibrações de novos tempos
 Sem o despotismo facínora dos atentados

 Desvelando inverdades...

(por Rafael Gafforelli)






IDADE AVANÇADA

 O tempo vai zunindo
 Num avião a jato volumetricamente

 Velhas esgotadas num capital insano
 Engolindo sapos e trogloditas desumanos

 Esta idade avançada
 - compassadamente a ser criança
 E o medo da esperança em não morrer acordada?

 Ó idosas abandonadas
 Pela ingratidão de gélidos corações,
 Encontrarão as vossas alvas beatificações:

 Ser mãe já é uma benção!

(por Rafael Gafforelli)



FUTURO

O escuro assombrado
 Em lamentos rudes e imprestáveis
 E na amada esvoaçam cabelos pretos e lisos

 E o teu gesto bagual
 Num baile de gala tecnológico?

 Voluptuosa correnteza
 Esvai viscosas faces ruidosas

 E a vil presciência
 Dos indigentes estropiados sem mundo

 Neste caos capitalista?

 Salários-mínimos-minimizados
 Num vampirismo religioso-político-economista:

 Bordel do elitismo!

(por Rafael Gafforelli)








CONSCIENTIZAÇÃO II

 O teu corpo é a minha pele:
 Minha segunda pele revestida de diamantes

 O teu corpo é o meu desejo:
 Meu gosto no silêncio dos instantes
 Onde eu afago os meus sonhos ilusionistas

 O teu corpo é a minha voz
 - minha segunda voz que transgride o inaudito

 O teu corpo é o meu espelho:
 Minha introspectiva do meu ego
 Onde eu estilhaço o meu egocentrismo

 O teu corpo é a minha alma
 - minha segunda alma no brio da revolução

 A tua alma é o meu corpo:
 Meu segundo corpo virtual de argila
 Constatando a tecnologia das manhãs vibratórias

 A tua alma é o meu olho:
 Meu terceiro olho do adeus transcendental

 Nesta consciência astral...

(por Fernando Gomes)



NEUROSES

Mania de perseguição:
 Sobrevivo perseguindo o teu amor

 Mania sugestiva:
 Sobrevivo acreditando no teu amor

 Mania psicodélica:
 Sobrevivo alucinado pelo teu amor

 Mania matemática:
 Sobrevivo de quatro sob o teu amor

 Mania emotiva:
 Sobrevivo taciturno pelo teu amor

 Mania portuguesa:
 Sobrevivo no bacalhau do teu amor

 Mania poética:
 Sobrevivo na lua do teu planeta azul

 Mania neurótica:
 O nosso amor não acabou!

(por Fernando Gomes)



VERSINHO

 Tu és a minha deusa
 E minha definição de eternidade...

(por Fernando Gomes)


SUCESSO

Eu queria o mundo
 As estrelas os planetas as galáxias

 Todas as vias-lácteas só pra mim

 Eu queria o mundo
 Os sóis as luas os cometas as nebulosas

 Todas as vias-lácteas só pra mim

 Eu perdi o teu amor
 E descobri que tu eras o meu sucesso:

 Tu eras o mundo...

(por Fernando Gomes)




SUBSERVIÊNCIA

 Sempre o teu escravo
 Estendido sob os teus pés de boneca

 Maestro da lírica magistral,
 Organizo pensamentos na tua melodia
 - aconchegar os meus desejos em hora apropriada

 Sempre serei o teu amante:
 Sou o orvalho em tuas pétalas insinuantes

 Amador de versos multifacetados,
 Reverencio os teus luares-mares em rios afluentes
 E o meu corpo impregnado de amor principia esplendores!

 Sempre a tua sombra
 À distância não dispersa pensamento

 Vozes oníricas vasos de amor
 Enraizando flores lírios interplanetários,
 Ovulando os meus espermatozóides em tuas carícias...

 Sempre o teu espelho
 Realçando a tua majestosa beleza excepcional:

 Sou o teu servo fidelíssimo!

(por Fernando Gomes)



ESCURIDÃO

 Perdi o compasso:
 Escavações convulsivas trevas

 Sereia de Copacabana
 Translúcidos corrimões esotéricos
 Aprimorando a minha ciência latino-americana

 No escuro do fado
 Diabolicamente penetro um deserto

 Os teus olhos faróis lanternas
 Fulgurando os meus caminhos sinuosos,
 Entrelaçando os teus gestos meigos de dialetos

 Perdi a minha bússola
 Em artimanhas cotidianas perfeccionistas?

 Sussurros signos oportunistas
 Impulsionando-me à velocidade dos ventos,
 Vibrando os meus pós-poemetos inquestionáveis

 No escuro do meu quarto
 Visualizo a minha tragédia farpa libertina?

 Musa prantos afrodisíacos
 Pranteando os meus vales minhas colinas,
 Cavalgando mil léguas sobre meu corpo d’água...

(por Fernando Gomes)


FASCINAÇÃO

Um pedaço de carne lírico
 Ultrapassando os penhascos inscientes

 Infinitos ensejos desconcertantes
 E os amantes nos vislumbram inusitados
 - lulas praticantes de uma dualidade paradoxal?

 Um pedaço mulher-homem
 Infiltrando-se perplexo nos descaminhos

 Um lirismo de vozes oníricas
 Transpassando o juízo colérico sensual,
 Brotando nuas voluptuosidades inigualáveis

 Um pedaço de terra-mar
 - terreno mareante em ondas caleidoscópicas!

 As flores losangos angulares
 Maremotos virtuosos lírios esfinges
 Aflorando os meus versos no sumo dos delírios

 Um pedaço de sensualidade
 Esculpindo fantasias mil esquizofrênicas

 Num espaço de fascinação!

(por Fernando Gomes)


SAUDADES

 Um elo de paixões febris
 Enlouquece as minhas veias enigmáticas

 A força do ópio me desatina
 E luzes das venezianas vomitam venenos
 Sobre a carcaça violentada de desejos

 Choram os anjos azuis
 E meu precipício de sonhos mortos...

 A deusa destes versos esfacelados
 Desconhece a minha imensidade de saudades,
 Corroendo a minha mente em devaneios

 Suspiros dos amanheceres
 Não encontram guarida no colo angelical

 Enxovalhos de tristezas
 Embrutecem o meu organismo esfomeado de ti,
 Numa composição orquestral delirante

 Um elo de paixões febris
 Conectado neste meu amor poético

 Morto de saudades!

(por Fernando Gomes)



INSUCESSO

 Um fracasso vizinho
 E meio tresloucado no teu enlaço

 Vibro alicerces pra me vencer

 E amasso folhas de papel,
 Mas percebo o teu céu na folha de aço

 Insucesso (meu amor de amora)
 E meu desamor esmola em teu pânico
 Onde a minha insuficiência deflagra amadorismo

 O teu amor pós-modernista
 Eleva a minha ciência em te amar à distância

 Amasso folhas de alumínio
 E prevejo o inferno do meu fracasso
 Sob os teus olhos incógnitos de franco espanto

 Insucesso é meu parente:
 Vegeto estrangulado na má sorte...

(por Fernando Gomes)






CRATERA

 Cravei os teus olhos turvos
 Nas avenidas curvilíneas do meu corpo:

 Depravei-te!

 Cratera crosta da minha pele
 E Deus prometeu que vele a nova era...

 Espinhas rabiscando encostas
 Minha rainha cosendo o meu infortúnio
 Enquanto me debatia nas ondas de Copacabana

 Culto da vida espiritual
 - do meu lado o mal me enguiça!

 O rumor da discrepância
 Avança as comichões e as pústulas da acne
 E eu comovido nos desastres dos meus amanheceres...

 Cratera – pele indecente,
 E eu tão-somente uma esfera agonizante

 Embreado na tua solidão...

(por Fernando Gomes)





MALDADE

 Naveguei no teu destino
 E ao badalar dos sinos me abortei

 A metamorfose do teu ser
 Absorveu-me no limbo da mocidade
 Pulverizando os meus pulmões de dissabores

 Sem o rebrilho no olhar,
 Quanto a te amar nunca te esquecerei?

 Perdi o nosso par perfeito
 Motivado pela maldade em agonia
 E a impura maresia me lambia em verso

 A vela derreteu o teu amor:
 Coabito neste desamor maquiavélico!

 Um sonho irremediável
 - pêndulos pesadelos bélicos
 Onde a maldade da solidão solidifica

 Naveguei no meu suplício:
 Desbravo tristezas nos mares da saudade...

(por Fernando Gomes)





VENENO

Ó destino monstruoso,
 E sou vaporoso e me refaço

 Ó veneno como não bebê-lo
 Mas por não tê-lo comi meu feno
 Enquanto a vida repassava desilusões

 Sem amor fico desnutrido
 - até meio enrustido ou meio dado...

 Ultrajes ilógicos pensamentos
 Mas não encontrei o alento no amor:
 Doutora em psicologia sem saber se doar

 Vencido (sofrendo escoriações)
 Entreguei as minhas emoções endividadas

 E bebi o teu veneno...

(por Fernando Gomes)


INSULAMENTO

 Os passos empedernidos
 Em teus gestos impuros e ímpios

 A liberdade esquartejada
 Teu amor esmero esquecimento
 De uma época transversal de loucuras

 A minha solidão indistinta
 Perpassa o silêncio inimigo sem fronteiras

 Insulado no computador
 E dores abismadas nos escândalos
 De uma vida eufórica, virtual e patética

 O poeta crivado de versos
 E dias perversos sem meta alguma

 Insulamento lamentoso da alma
 Nesta minha calma avessa acinzentada
 Contrastando com o influxo da transgressão

 Ensaiei os passos empedernidos
 Nas nuances nebulosas de uma vida incolor...

(por Fernando Gomes)





MOCIDADE

 A juventude de outrora:
 Amor férvido sem reticências

 A felicidade sem demoras
 Não nesta cidade fria sonolenta
 Onde morro paulatinamente nas auroras

 E nada sabia da minha dor
 Pois navegava nas asas do teu amor

 A mocidade - vida louca:
 A tristeza era perplexa vaidade
 Onde o teu corpo ondulava os meus sonhos...

 A alegria - rainha do mundo,
 Luares luminosos, caóticos e orgíacos

 E nada sabia da minha dor
 E luzes vitrais quimeras sabores
 Seduziam as nossas peles sóis arrepiados

 A juventude da aurora:
 Velhice precoce afogamentos...

(por Fernando Gomes)





DESAFIO

O desprezo do coração:
 Desafio as tuas emoções lânguidas

 Os teus olhares de rapina
 - minha sina céus desarticulados
 Embora pairasse no teu desvelo instigante

 O teu amor já acabou
 Não vou morrer nesta dor armada?

 Desafio as tuas estâncias
 Na esperança descendo o riacho
 Como um soldado de escol sobrevivente

 Perfurei o vácuo da despedida
 - minha alma abduzida ressuscitou luzes!

 A tragédia do teu desamor
 Enlaço febril dos cílios noturnos
 Onde o orvalho fabricava o meu reflorescer

 Ó serpente venenosa
 Desafio a tua cicuta de amor incurável!

(por Fernando Gomes)





terça-feira, 29 de junho de 2010

DESTEMIDO

Sou imolado
 E prometido aos deuses

 Desconheço os medos
 Ainda assim dói furar o dedo
 - mesmo se for cruzar o sangue por amor...

 Esta dor do desengano:
 Insano te estigmatiza e te profano!

 O destemido lobisomem
 - teu homem de amor escolhido
 E sou santo em te amar clandestinamente

 Já não olho à tua lua
 E vou zunindo à rua e contesto...

(por Fernando Gomes)

BATUCADA

Sambam eternas noites
 E o carrasco do açoite é bambo

 Batucada/palco/folia
 Orgia confabula nos meus pêlos
 Mas a minha índole mal-educada te engole

 A mixagem de olhares:
 Alguém roubou meu amor no escuro...

 Balança a cintura de filó
 Qual é o pó doçura de Copacabana?
 Vem me sambar nesta madrugada férvida

 Ó morena rebola as cadeiras
 E dança sobre o meu corpo insaciável:

 Samba e obscena...

(por Fernando Gomes)




TRANSTORNO

Separei o sonho dela:
 Cinderela amor perpétuo!

 Ó este transtorno
 - torpor da ilusão dos tempos:
 Indócil nas mãos do fado eu desencantei

 Esta aba celestial
 E o luto do teu véu transtornou-me

 Sofri os meus dissabores
 Sem ver flores ou ouvir bem-te-vis
 Anunciando a mutilação opaca dos deuses...

 Dividi a minha guarida
 E não curei a ferida do meu inseto

 Este transtorno reumático
 Desenhado neste corpo incinerado
 Matou a liberdade de o meu âmago revoar

 Separamos os corpos:
 Minha alma navega na tua lua...

(por Fernando Gomes)




ABATIDO

Um maltrapilho
 E sofrendo assim estou

 Engajado no nada
 Sonho fadado sem ser amado:
 Abatimento das desventuras cotidianas!

 O espelho ondula a gruta:
 Lembro-me da minha índia vermelha

 Nadinha sobrou do amor
 Exceto uma foto de flor de fada
 Que espedacei em mil pedacinhos doridos

 Um pesado corpo cansado
 Quer nadar em sonho no mar do amor

 Um maltrapilho
 E perpétuo assim estou:
 Espectro visível nadinha absoluto

 No teu silêncio bélico...

(por Fernando Gomes)


LOUCURA

 Molhado choro
 Posso te amar no pranto?

 Loucura/expiação
 A vida não vibra o meu coração
 Sem a presença contemporânea da tua beleza

 O meu coração sofre loucamente
 Mas ainda é pouco a este amor dilacerado

 A reação no veneno da ilusão
 Diluindo a visão dorida no meu triste leito
 E transgride a minha emoção louca mortificada

 O prefeito não houve o meu grito
 Nem sabe que estou aflito quando me deito

 Loucura escarpada
 Nos momentos incertos
 Dos meus trágicos amanheceres...

(por Fernando Gomes)







SENTENÇA

 Vivi Copacabana:
 Não foi Luana que amei

 Celulite permanente
 Dá no povo e mesmo na elite

 Sentença/Rio de Janeiro
 Sem saveiro filosofia nem crença
 E retornei triste amargurado inconformado...

 No Espiritismo me agarrei
 Salvei-me de desfalecer no cepticismo

 Sou teu poeta
 Sentença do acabou não escapo:

 Sou um trapo!

(por Fernando Pellisoli)






RESIGNAÇÃO

 Um poeta resignado:
 Inútil sofredor feio e acabou

 Desviar o rumo do destino
 - peripécias e menino avoado a voar...

 Não subirei os degraus da fama
 Nem deitarei numa cama de rubis-esmeraldas

 O choro da transgressão
 A emoção que veio da tua lua eu amei...

 Estou morrendo
 E na doutrina espiritista
 Vou vasculhando o meu outro lado

 O espiritual...

(por Fernando Gomes)



CASTIGO

 Pressinto o castigo:
 O meu próprio inimigo mito...

 Eu pequei nesta vida
 E morto e sempre te amarei
 E o enredo do perdão é indefeso defeito

 Sou espírito imperfeito
 E sofrimento é carma divino
 E meu ensino na sabedoria do castigo:
 Cristo do meu Espiritismo em percurso de lucidez...

 Esta luz do altruísmo:
 Castigo é sempre bem merecido

 Amor desvelar
 Neste meu vaso ardiloso:
 Insônia é fruto da falta de vergonha!

 A ausência indecifrável
 E aglutino pensamentos febris
 E a sombra da permanência tresloucada
 Estraçalha o meu coração em pedaços infindos...

 Pressinto o castigo:
 Saudade rancorosa do amor que acabou...

(por Fernando Gomes)

CANSAÇO

Este peso exaustivo:
 Absorvível crise desalinhada

 Uma vida confessada
 Que escorre da pele penitente
 E sei quem me contesta onde sou bem pior

 Este mau querido
 - caverna ânsia esférica
 Crucifixo crucificado que procuro tanto
 São as flores em pranto na liberdade das luzes

 Este olhar azul-esverdeado:
 Flâmula celestial-marítima derredores...

 Um rio-grandense do sul
 - cansaço deserto tombo no chão
 E nesta boca sem dentes esgoto do fracasso

 Uns transtornos intelectuais
 Afugentando o sol sob a lua demente...

(por Fernando Gomes)

DESÂNIMO

 Eu creio na vida:
 Ilusão desconcertante

 Endosso os meus canos
 E desvaneço muito melancólico
 Neste ar bucólico - cilada porto-alegrense

 O contraponto escuro:
 Menino impuro sem vagina
 E uma cruz pesada num opaco diamante

 Taciturno enjaulado no quarto:
 Estou farto deste sonho precário e noturno!

 Eu vegeto insólito
 - sólido insolúvel esfacelado
 E deus acorrentou o meu coração no limbo...

(por Fernando Gomes)





TORTURA

 Um submergir eterno:
 Subalterno até enlouquecer...

 No Rio de Janeiro
 Eu amei sem precauções
 Na loucura doce como a tua ambrosia

 Esta sobrevivência
 - canteiro rosa minha vagina
 E tua alma esplandece fogaréus azulados

 Este lodaçal de sonhos:
 Vasilhame furado águas escoadas...

 Teus cabelos negros
 - vendavais de Copacabana
 E olhos petrificados na tua imagem

 Um amor escandaloso:
 Escândalos amorosos ardilosos
 E espumas esbranquiçadas dos teus mares

 O teu fogo eterno:
 Subalterno de amor morrerá...

(por Fernando Gomes)




VAZIO

Sonhei ter-te estrela:
 A passarela fulmina o sucesso
 E a tua inocência foi a minha desgraça

 Formosura em pessoa
 Nestes desfrutáveis olhares ávidos
 Mas o fruto da arte cênica tu não continhas?

 Sofremos as perdas
 E a vida vil não dava jeito
 Nos alvos sonhos de anjos sem asas?

 O vazio desfigurou-nos
 - tragédia greco-romana pós-moderna
 E transpassou febril o precipício da separação

 Sonhei ter-te estrela
 E erguer-me num colar rutilante
 Mas e a vileza do fado-trágico num vazio algoz?

(por Fernando Gomes)



ILUSÃO

Rio de Janeiro
 Estrelas bordadas em ouro
 Nestes crucifixos e carrosséis de ilusões

 Um sonho de artista:
 Amar-te no infinitamente
 Mas a indevida querença da má estrela...

 Os frutos implantados
 Na metrópole engajada culturalmente
 Frutificaram os meus galhos empedernidos

 O que fazer da vida
 - fervor da expressão artística
 Sem a sensualidade do meu amor eterno?

 Viver é efêmera ilusão:
 Trotear nas rédeas do fracasso
 E os meus poros dilatados são rios de loucuras!

(por Fernando Gomes)





COPACABANA

 Ó Copacabana
 De areias abundantes e férvidas
 Onde os teus pés deslizavam lindamente

 Ó Copacabana
 Onde eu recostava a cabeça
 Em tuas coxas roliças e bem delineadas

 Ó Copacabana
 Era poluída a maldita
 Mas sensualíssima, deslumbrante e multicolorida

 Ó Copacabana
 E a minha linda morena
 Nesta ânsia dos desejos insaciáveis?

 Ó Copacabana
 Deveria ser interditada
 Tão-somente para o meu amor passar

(por Fernando Gomes)






SEDUÇÃO

 O teu corpo molecular
 Moldado num tapete de estrelas

 A miséria cotidiana
 - encanto da voz orquestral
 E plasmado no teu sangue me consumia

 O coração esfacelado
 Onde os teus pés deslizavam
 E minha boca sedenta escorria deleite

 A paixão esvaecida
 E deslumbrado em tua bunda
 O meu corpo atlético encurvava-se arrepiado

 Os valores filosóficos
 - sutis sonhos maquiavélicos
 Na metamorfose do artista em advogado tributável

 Levado pela ventania do fado...

(por Fernando Gomes)








MEUS SONHOS

 Desmancharam-se nos penhascos
 Elucidados, auspiciosamente, de vibrações reais...
 As dores alucinógenas
 Devastaram o ar dos meus pulmões
 Nos corredores impróprios e indeléveis de solidões.
 Os mares engoliram
 Todos os meus pedaços de sonhos decepados
 E absolutamente não vividos.
 Só me restou um sonho de realidade:
 A minha LOUCURA!

(por Fernando Pellisoli)

AUTO-RETRATO II

 O meu depositário de lágrimas já secou...

(por Fernando Pellisoli)


ATEMPORAL

Não mudo.
 O mundo são tolices.
 A vida é uma loucura solene.
 A Terra é uma condenação Tragicômica...

 Não mudo.
 A poesia é o que verte da veia.
 A política é a massificação de todos os povos...
 A verdade é brutal!

 Não mudo.
 Eu vivo no meu tempo.
 Na minha invencível identidade poética...
 Eu sou a LOUCURA!

 Não mudo.
 Eu não sou da Pós-Modernidade.
 Eu sou de mim mesmo.
 E do meu eu-poético...

 Não mudo.
 Eu sou um espírito cativo.
 Eu sou o desafio da minha vil expiação.
 E esta morte sem aviso prévio...

(por Fernando Pellisoli)




PÓS-MODERNISMO

 Não me perguntem nada.
 Estou muito distante de todas as redondilhas,
 De todos os movimentos literários
o [abestalhados
 Que a crítica faz especulação...

 Quero apenas escrever os meus poeminhas
 Retratando a minha triste alma
 Em mágoas que são minhas
 E da minha palma.

 Não me perguntem nada.
 Sou o choro da madrugada esmamaçada de tristezas
 Corrompendo as transversais da agonia...

 Não quero nada.
 Não quero a posse das minhas adversativas.
 Eu quero o teu olhar de fada
 Nas minhas locuções adverbiais ativas...

 Não me perguntem nada.
 Não estou caminhando com as crendices,
 Estou enfurnado literalmente no meu insulamento
 Fazendo poesia: nada, além disso...

 Não quero nada!
 Não quero encabeçar uma fileira
 [de horrores indescritíveis...
 Quero, antes, a minha liberdade
 De não dizer nada além dos meus questionamentos
 Indomáveis e sedutores...

 Não quero nada.
 Não pretendo dizer nada.
 Quem sabe, então, eu possa te dizer tudo...
 De mim que sou quase o Nada...

 Não quero nada.
 Eu já perdi todos os meus sonhos...
 Não pretendo dizer mais nada.

 Não quero nada! Não quero nada! Não quero nada!...

 Quero apenas escrever
 Cem toneladas de LOUCURAS...

 Não quero nada...
 Quero nada...
o Nada...
o EUNADA...

(por Fernando Pellisoli)






HOMEM

Eu me chamo Homem.
 O mais destemido dos animais.
 O mais unânime em destruir o paraíso...

 Eu me chamo Homem.
 O mais ganancioso dos animais.
 O único, de todos, que destrói a si mesmo...

 Eu me chamo Homem.
 O mais ignorante dos animais.
 O único, de todos, que desrespeita as leis de Deus...

 Eu me chamo Homem.
 O mais orgulhoso dos animais.
 O único, de todos, que tem o livre-arbítrio...

 O livre-arbítrio,
 A tragédia do livre-arbítrio...

(por Fernando Pellisoli)






GENIALIDADE

 Felizes dos poucos que podem gozar
 De uma inteligência muito acima da média,
 Reconhecida antes da morte...
 [da GENIALIDADE...

 Eu não sou interessante.
 Vivo na miséria dos infelizes...
 Depois da minha desinteressante morte,
 Querem falar de mim...
 Querem gastar o meu dinheiro
 Da minha POESIA...

 Nasci fora do meu tempo
 Como outros artistas de outrora...
 Eu vivo fora desta tresloucada Pós-Modernidade
 No seio de mim mesmo.
 No seio do meu EU-POÉTICO...

 Não posso fazer nada.
 Escrevo o que me apetece e o que me der na telha.
 Não gosto de movimentos literários,
 Gosto mesmo é de navegar
• [SOZINHO...

(por Fernando Pellisoli)





DESAFIO

 Estou ultrapassando a avenida
 Dos meus sonhos empedernidos de realidade...

(por Fernando Pellisoli)


MEU ESTILO

Sou o poeta da loucura
 De versinhos pré-estabelecidos na tragédia,
 Como se não houvesse a procura
 À vida sem comédia...

 Não sou poeta da alegria
 De versinhos mornos que só fazem médias,
 Como se não houvesse tanta sangria
 À vida sem rédeas...

 Sou um poeta melancólico
 De versinhos cientes de todas as loucuras,
 Como se não houvesse o bucólico
 Nas minhas procuras...

(por Fernando Pellisoli)



CONSCIENTIZAÇÃO

Os meus delírios
 São alucinações das minhas exaltações
 Numa centrifugação de lírios
 Nas minhas emoções...

 Os meus delírios
 São exaltações das minhas alucinações
 Numa revoada de pássaros sírios
 Nas minhas canções...

 Os meus delírios
 São as minhas vagas conclusões...

(por Fernando Pellisoli)


PENSAMENTO POÉTICO

Eu não quero envelhecer
 E morrer sem antes me reconhecer por dentro...

(por Fernando Pellisoli)


RISOS AMADORES

 Estas risadas soltas da juventude
 São indícios letárgicos de um vago amadorismo...

(por Fernando Pellisoli)

ESCAVAÇÕES DA MENTE

 Adentro-me no interior do meu universo
 (gravemente ferido de dores quase intermináveis),
 Onde o meu louco pensamento do verso
 Tem idéias estabelecidas e imutáveis...

 Avanço escavando por dentro do meu ego
 (numa alternativa combinada dentro do espaço),
 Onde me descubro no vazio de um cego
 Que dilacerou as tramóias do fracasso...

 Descubro que eu sou um eco inconfundível
 Atravessando os meus medos loucos e trágicos,
 Influenciado pelo grande amor imperdível...

 Estabelecido o teor dos meus versos mágicos,
 Reconheço a fragilidade deste momento incrível
 Que são sentimentos doridos e letárgicos...

(por Fernando Pellisoli)

MEU TALENTO

 Descobri que não tenho talento algum,
 Além de pintar o autodidatismo das minhas aquarelas
 E escrever os meus versinhos...

(por Fernando Pellisoli)


ALGUMAS PALAVRAS

 O verso não dito
 Estabelece um intermédio da decência,
 Onde eu enclausurado reflito
 Na minha gorda indecência...

 O verso bendito
 Estabelece a loucura da minha paciência,
 Onde eu sou um monstro esquisito
 Na minha magra ciência...

 O verso maldito
 Estabelece o desnorteio da influência,
 Onde assustado eu me fito
 Na minha louca essência...

(por Fernando Pellisoli)





AOS CIENTISTAS

 Vocês nunca vão poder descobrir
 Quem é que criou o microorganismo primordial,
 Pois Deus não pode ser tocado, nem medido:
 Deus é imaterial e infinito...

(por Fernando Pellisoli)





CASOS E ACASOS

 Em qualquer história
 (Por mais medíocre que seja)
 Sempre nos resta um resquício de memória...

(por Fernando Pellisoli)



LUXO DA LUXÚRIA

 O luxo da luxúria
 É a elite bebendo esperma em taça de cristal...

(por Fernando Pellisoli)


DESEJO FEBRIL

 O desejo corrompe a minha razão
 Tornando-me presa fácil em qualquer situação,
 Turvando a minha visão
 [e a minha reação...

(por Fernando Pellisoli)



ARTISTA DE VANGUARDA

Eu tento me explicar perfeito
 Em tudo que já foi dito num remoto passado;
 Mas que não foi compreendido
• [e nem aceito
 Pelo mundo assombrado...

 A minha novidade já está velha e caquética
 Pra eu me achar na vanguarda...
• [Só se eu não tivesse ética
 E a consciência em guarda...

(por Fernando Pellisoli)



SUPLÍCIO

 Se pra morrer eu não tenho jeito,
 Descrevo o amanhã entupido de destroços.
 Já que eu não sou perfeito
 Na minha carne e nos meus ossos.

 Agüento este vórtice de alucinações
 Desintegrando os defeitos da minha alma,
 Visualizando esféricas inalações
 De um burro emburrado
 [e sem calma.

 Aumento o teor da minha dor
 No desperdício do meu tempo precioso,
 Pois eu (sem a fábula do teu amor)
 Sou preguiçoso e ocioso...

 Se pra morrer eu não tenho jeito,
 Descrevo o amanhã entupido de destroços...

(por Fernando Gomes)



MEU DESPERTAR

 Acordei fora do meu corpo
 Com um corpo desfalecido e quase morto...

(por Fernando Pellisoli)


PALAVRAS CURTAS

Os meus signos adversos
 Destroem toda a fragilidade da tua beleza,
 Que transparece nos meus versos
 Ao som da vileza...

 A tortura dos teus egocentrismos
 Reporta-te a um mundo imaginário,
 Enquanto a maledicência dos teus concentrismos
 Distrai-se num velho e gosmento
• [seminário...

(por Fernando Pellisoli)

MINHA FEIÚRA

 Sou mais feio
 Que um raio numa rua escura...

(por Fernando Pellisoli)

NECESSIDADE

 Necessito estar comigo
 (nesta intimidade dos segredos invioláveis),
 Onde eu sou o meu melhor amigo
 Nos meus sentidos impressionáveis...
 Preciso do meu silêncio
 Para madurar as minhas amarguras
 E as minhas loucuras...

(por Fernando Pellisoli)



AMOR ANTIGO

 Estranho este amor tão longe
 Dos meus olhos melancólicos e mortais,
 Como se eu fosse um monge
 Morto nos jornais...

 Mas sinto a tua presença
 Nesta inconstância da minha vida vária,
 Pois tenho a minha crença
 [na minha luminária...

 Voltarei à Copacabana
 (deslumbrado feito uma criança inocente)
 Pra te chamar de novo de Silvana,
 Como na primeira
o [noite da gente...


(Fernando Gomes)

MAR REVOLTO

 Ondulações impenetráveis
 Cuspiram-me à areia férvida de Copacabana...

(por Fernando Pellisoli)

DESCOBERTA II

 Nos pequenos poemas
 Estão contidos os maiores ensinamentos
 Dos sublimes temas
 Dos eternos encantamentos...

(por Fernando Pellisoli)


AUTO-RETRATO

Sou apenas um cisco
 Na tormenta trágica de um vendaval...

(por Fernando Pellisoli)


DEMAGOGIA

O fruto (na putrefação dos enganados)
 É saboreado pelos velhacos do colarinho branco;
 E os políticos ainda são amados
 Pelo povo honesto e franco...

(por Fernando Pellisoli)

POEMETO DE BOLSO

 Eu estou tão carente e tão sozinho
 Que eu já estou conversando com as formiguinhas,
 Já que eu não tenho nenhum vizinho
 Que escute as mágoas que são tão minhas...

(por Fernando Pellisoli)




À CRÍTICA

 Enquanto eu estiver vivo,
 Eu não valho nadinha: eu não presto!
 Pois é depois de morto que eu revivo
 Na genialidade de um modesto...

(por Fernando Pellisoli)

DISCERNIMENTO

Como este meu poema pode ter sentido
 Se esta vida que eu vivo é caprichosamente louca,
 E me deixa tragicamente comovido...

(por Fernando Pellisoli)

DESTINO INCURÁVEL

 Presto-me em desfolhar a página deserta,
 Deslumbrando-me de tédios inteiros...
 A besta de boca aberta
 Manobra os meus canteiros...

 Não me importo com o teu pensamento,
 Que me deturpa o limo primeiro,
 Pois navego em cima do teu vento
 Descrevendo o meu sentimento no meu letreiro
 [de luares urgentes...

 Nasci pra morrer de infelicidade,
 Compondo tristes poemas
 De real eternidade
 Nos meus sistemas...

 Vivo nesta bobeira
 De poesia triste e feiticeira
 Como uma minhoca morta no anzol da vida...

(por Fabiano Montouro)

DUAS FACES

O meu rosto translúcido de misericórdia
 Enovela-se nas arestas do teu vento,
 Trafegando a discórdia
 Do meu eterno sentimento...

 As imagens distorcidas do ventre
 Desdobram folhas inocentes,
 Enquanto na tua porta entre
 Velhas margaridas apaixonadas e indecentes
 [de tão quentes...

 Os meus olhos iluminados
 Transpassam a tua mente febril,
 Onde (destes lados)
 Desce um rio...

 Amargo retratado
 No meu rosto parado
 De tristonhos reflexos dos teus outonos...

(por Fabiano Montouro)

domingo, 27 de junho de 2010

DESPERDÍCIO

 Eu tenho escrito longos poemas
 Que não me dizem absolutamente quase nada,
 Como os filmes de cinemas
 Da cinematografia americanizada...

(por Fernando Pellisoli)

DESCOBERTA

 Descobri que eu sou uma semente
 Germinando nos vendavais intensos da literatura...

(por Fernando Pellisoli)


CRITÉRIO DE BELEZA

 Descrevo a rua deserta
 Atravessando o prelúdio da crua madrugada,
 Sem que a mulher mais linda e mais certa
 Já esteja despida e aclamada...
 É no meio de tamanha imperfeição
 Que algumas mulheres alcançam notoriedade...
 Mas tudo não passa de uma ficção
 Da louca mocidade...

(por Fernando Pellisoli)



PRESTAÇÃO DE CONTAS

 Não quero escrever grandes coisas;
 Mas escrever pequenas coisas que se tornem grandes...

(por Fernando Pellisoli)



LUZES OFUSCANTES

Estou rabiscando
 Na mediocridade inconsolável do tempo.
 Quero escrever no vento da minha eternidade
 De luzes ofuscantes...
 Não quero o brilho destas constelações
 Que palpitam no coração das mulheres bem amadas;
 Quero as luzes ofuscantes e fragmentadas
 Do meu eterno ESPÍRITO...

(por Fernando Pellisoli)




SINA DE ESCREVER

A minha vontade de escrever
o É maior que a minha vontade de pintar,
 Ainda que eu seja um aquarelista desenfreado.
 A poesia borbulha na minha mente
 Como uma chaleira fervente em ebulição.
 Então não há outro jeito
 A não ser escrever os meus pensamentos poéticos
o Em papel impresso de uma editora.
o Escrevo o que sinto -
 E (muitas vezes) escrevo o que não penso -
 Só pra ver se você gosta um pouco mais de mim.
 Quero chorar e não consigo,
 Então eu escrevo os meus versinhos...

(por Fernando Pellisoli)

O MEU EU-POÉTICO

Como eu sou egocêntrico
 Pois os meus poemas falam literalmente de mim.
 Eu tento ser menos concêntrico,
 Mas eu não consigo enfim...
 Já virou minha mania e meu estilo
 Esta desenvoltura de descrever as minhas vagas emoções...
 Sou uma tonelada daquilo
 Tentando escanear as imagens das canções...
 Mas eu sou tão desimportante
 Que não espero alguns aplausos (nem ovação)
 Em nenhum instante
 Da minha tênue crucificação...
 A única coisa que eu tenho ao meu favor
 É que na poesia quem fala é sempre o EU-POÉTICO,
 Mas meu Deus, que horror,
 Eu preciso ser menos ÉTICO...

(por Fernando Pellisoli)

MEUS GRITOS MEDONHOS

 Meus passos são curtos
 E descrevem a minha tristeza,
 E eu já tive vários surtos
 E perdi a minha beleza...
o Perdi todos os sonhos
o Nas escadarias da eternidade,
o E os meus gritos medonhos
o São de comicidade...
• Avalanches de desperdícios
 Escravizam-me neste meu tédio.
 E no despacho dos meus vícios,
• Eu não encontro remédio...
o Vazio negro da ambição
o Desvanecendo a alegria sincera,
o E a tese da minha proibição
o Confirmou-se na Nova Era...
 Viver é uma grande asneira
 Nesta aporrinhação dos dias nefastos,
 E se eu não faço a última besteira
 É que os meus versos ainda são vastos...

(por Fernando Pellisoli)





OS MEUS MEDOS CALADOS

 Sonhei em ser feliz
• Como um grande artista renomado;
• Mas me tornei louco e infeliz
 No desfiladeiro de um desalmado...
 Encontrei muitas dificuldades
 Na trajetória da minha glória iludida,
 E o meu estudo em duas cidades
 Era a morte pressentida...
• O cerco foi se fechando
• Nos meus alicerces desfigurados,
• E eu fui sempre me atolando
• Nos meus universos condenados...
 Perdi o amor e a dignidade
Enlouquecendo-me no vasto desvario,
 E agora que eu já passei da idade
 Não vertem as lágrimas no meu rio...
 Meus dias são entediados
 Nesta penúria pétrea que é a vida;
 Mas os meus medos loucos e calados
• É ter uma existência perdida...

(por Fernando Pellisoli)


ENSAIOS DE UMA VIDA


o Eu sou um lago e um vento
 Nesta arruaça louca e nauseabunda;
 Mas o teor do meu sentimento
Enfrenta uma dor funda...
 Eu sou uma lanterna apagada
 No desnorteio de uma vida complexa,
 Pois esta saudade da amada
 É côncava e convexa...
o Desgosto do meu desengano
o Nesta enxurrada de grilos videntes.
o E se eu morro ano após ano,
o É que os meus olhos são ardentes...
 Eu sou um pássaro sem asas
 Arrastando as bases pra sobreviver;
 Mas se os meus pés pisam em brasas
 É que eu ainda quero viver...
 Eu sou o meu próprio veneno
 Nesta ciranda desenfreada da vida,
 Pois eu sou ainda muito pequeno
 Nesta minha alma descabida...

(por Fernando Pellisoli)







EU TENHO MEDO DA TRISTEZA

Eu sinto muito medo
 De estar encarnado neste planeta,
 De estar morrendo mais cedo
 Do que a minha caneta...
 Lamentações de outrora
 Dilatam a minha ingente loucura,
 E estou muito sozinho agora
 Nesta vida ingrata e dura...
• Torturas no meu ego
• Enfraquecem a minha vontade,
• Pois eu sou frágil e não nego
• A minha infelicidade...
 Dói a dor do meu pranto
 Na boca do vento tão insistente;
 Mas o ruflar do meu canto
 Diz-me que eu sou penitente...
 Eu sinto muito medo
 De viver toda a minha tristeza,
 Pois eu já furei o meu dedo
o E perdi o amor e a beleza...

(por Fernando Pellisoli)

DOENÇA DA FOME

Gritos inocentes
• Esbalda de dor o meu coração,
• E o governo planta sementes
o Frívolas e sem reação...
• A fome é tamanha
• No substrato de horror e agonia,
• E a teia febril duma aranha
 Tece uma vil sinfonia...
o Gemidos horripilantes
o Desgraçam o dia das madames,
o E o silêncio que fazia antes
o Corrói os amores infames...
 Crianças com fome
 Perpassam à rua da amargura,
o E os elefantes sem nome
o Carregam a carga dura...
 A miséria nefasta
 São expiações brutamontes.
 E se na Índia tem casta,
• Choram os rios e os montes...

(por Fernando Pellisoli)





MÁSCARAS DO PUDOR

 Uma luz me impede
 De ver a minha alma reluzindo;
 Mas o meu pensamento não cede
 A esta luz e vai-se indo...
o Meus olhos arregalados
o São duas pústulas horripilantes;
 Mas a vida de todos os algemados
 Não sofrem como antes...
 Desdobro a face postulada
 Numa viagem cíclica das sementes;
 Mas pressinto a voz da amada
 Nos meus versos ausentes...
 Vibrações magnetizantes
 Englobam as minhas faces de pudor;
o Mas os meus sonhos eletrizantes
o Vangloriam o meu amor...
 Represento a minha vida,
 Sob a tutela dos Espíritos Superiores;
 Mas a minha estrada repartida
 É o meu covil de dores...

(por Fernando Pellisoli)


NOVOS TEMPOS

o As flores delicadas
 (com seus perfumes aromatizantes)
 São eternas e estrábicas ciladas
o No feitiço dos amantes...
 A aurora é anunciadora
 De novos tempos primorosos;
 Mas a minha idéia pecadora
 Tem os cílios enormes e perigosos...
o As flores são charmosas
o Na anunciação da primavera,
o E eu me dou com todas as rosas
o Pois tenho a alma sincera...
 Como é linda a margarida
 Na sua simplicidade comovente:
 É como se fosse à histórica vida
 De um menino inocente...
 Novos tempos superiores
 Arrastando-me ao desempenho:
 Neste meu ninho oculto de dores,
• Eu invento o meu engenho...

(por Fernando Pellisoli)

MEU CAMINHAR

 Caminho solitário
o Nesta estrada cheia de espinhos.
 E não ouço o canto do canário,
 E não tenho os teus carinhos...
 Caminho solitário
 Nesta madrugada silenciosa,
 E vivo preso no meu armário
 Sentindo o teu cheiro de rosa...
 Caminho solitário
 Neste covil de lobos e serpentes;
 Mas não sou nenhum otário
• E planto as minhas sementes...
• Caminho solitário
• Neste distanciamento do vento;
• Mas o meu fado é hilário
 No revés do meu sentimento...
o Caminho solitário
o Entre tropeços de pedras ocultas,
o E vegeto sem salário
 Com idéias doridas e incultas...

(por Fernando Pellisoli)




DESTROÇOS ANTIGOS

o Venho de longa data
• Expressando os meus anseios;
o Mas este silêncio me mata
• Ao sonhar com os teus seios...
 Fujo (no meu padecer)
 Desta avenida de ópio empedernida;
 Mas se eu não sei morrer,
 Como desdobrar a minha vida?
 Carrego pedaços escondidos
 Mortificando a alegria do coração;
 Mas se os sonhos estão perdidos,
 Ainda me resta uma solução?...
 Atravesso os pântanos desfloridos
 Numa constatação do indubitável;
 Mas os meus pesadelos vividos
o Escorrem lívidos: sou ingovernável!...
o Se eu perdi a minha lucidez,
o Nesta travessia penosa do viver,
o Devo à tristeza do meu cupidez
 Desvelando todo o meu sofrer...

(por Fernando Pellisoli)






O VENTO

O vento sopra
 Em escuridões melindrosas;
 Enquanto a minha alma desdobra
 O perfume das rosas...
o O vento venta
o Em solidões profundas;
o Enquanto eu bebo água benta
o Em paisagens fundas...
 O vento encanta
 Em tristezas escarpadas;
 Enquanto o poeta irado canta
 Os sonhos das amadas...
 O vento dança
 Em arredores desocupados;
 Enquanto a minha alma alcança
 O perdão dos pecados...
o O vento assovia
o Uma canção de esperança,
o Enquanto a minha alma se comovia
o Num olhar de criança...

(por Fernando Pellisoli)






ESPERANÇA

 Sou um pássaro a voar
o Ainda que o meu vôo seja raso,
o E o meu talismã é o mar
 Com flores dentro do teu vaso...
 Minha língua é ardente
 Transcrevendo vozes ocultas,
 E a minha poesia é semente
 De loucuras fósseis e adultas...
o Tenho em mim a esperança
o De concretizar o último sonho:
o Sou triste e a morte avança
o Neste destino vil e medonho...
 Aguardo o meu fado anunciar
 Um sinal da minha desvelação;
 Mas enquanto eu não tenho ar,
 Estou morrendo na minha ação...
o Sou um pássaro a sobrevoar
o O pântano da minha tristeza;
o Mas a poesia vou sempre amar
 Na esperança de alva beleza...

(por Fernando Pellisoli)







EM TUAS MÃOS

Tuas mãos preciosas
 Podem mudar o meu destino,
 E eu lhe dou estas rosas
 Do coração de um menino...
o Tuas mãos argilosas
o São feitas do mesmo barro:
o De matérias orgulhosas
 Onde eu poeta me esbarro...
• Tuas mãos ardilosas
• Segregam o furor da vida;
 Mas as aparências vistosas
 Nesta morte pressentida...
o Tuas mãos corajosas
o Separam o joio do trigo,
o E as idéias tenebrosas
o Fazem-nos ficar inimigo...
 Tuas mãos venturosas
 Podem me abrir caminho,
 E eu lhe dou estas rosas
 Preparadas sem espinho...

(por Fernando Pellisoli)




FORÇA DAS COISAS

Uma flor germina
 Na face morena da noite,
 E o amor se dissemina
 E dispensa o açoite...
 O calor sempre aquece
 A gelidez da flor despetalada;
 Mas se eu me esqueço da prece
 Morro na madrugada...
o O sol brilha espetacular
o Sobre o mar todo ondulado,
o E eu (sem o respiro no ar)
o Engulo-me engasgado...
 A lua sempre serena
 Desvanece os meus pesadelos;
 Mas os cuidados de Helena
 Já não são dos meus pêlos...
 Uma flor germina
 Na face morena da noite,
 E o amor se termina
 Nas mãos do açoite...

(por Fernando Pellisoli)



VIBRAÇÕES DO AMOR

Um verso bonito
 Descrevo nesta madrugada,
 Como na dança de um rito
 E num beijo da amada...
o Bocas carnudas
 Entrelaçando suas línguas,
 E as flores (todas mudas)
 São os amores a mínguas...
 Olhos aguçados
o Perfilando o som dos sinos,
o Enquanto os apaixonados
o São alegres meninos...
 Gozos sensuais
 Inebriando emoções,
 Onde os corpos gestuais
o São eternas ignições...

(por Juliano Alves)



MISTÉRIO

 Nas ondas do mar,
 Entrelaço o meu pensamento pequeno
 Como uma ilha presa no ar,
 E bebo o meu veneno...
 Na brisa do vento,
 Entrego a minha alma descontente
 No vácuo de um convento,
 E viro uma serpente...
o No podre da fruta,
o Percebo a fragilidade material
o No agonizante da luta,
o E me enojo do Mal...
 Na poeira cintilante,
 Descrevo o infinito da eternidade
 Na súplica de todo amante,
 E avanço na idade...
 No reluzir das estrelas,
 Ultrapasso as avenidas do pranto
 Como um pássaro por vê-las:
 Na metáfora, sou santo!

(por Fernando Pellisoli)

LUNÁTICO LABIRINTO

 A minha poesia sou eu
 Dentro de um lunático labirinto,
 Onde a vida já me comeu
 E nem o seu estômago eu sinto...
o O tempo passa chispando
o Dentro da minha mente mentecapta;
o Mas eu não vivo chorando
 Por onde o luar me capta...
 O meu universo poético
 São as minhas emoções dilaceradas,
 E, porquanto eu não seja cético,
 Trago desconfianças desveladas...
o Luzes ofuscam sobre mim
o Na esperança de salvar a minha vida;
o Mas eu, que só vejo o meu fim,
o Tenho a alma toda repartida...
 Escrevo os meus delírios
 Para não morrer de todo enfim;
 Mas se na morte me vierem os lírios,
o Eu refuto toda a minha tristeza afim...

(por Fernando Pellisoli)






TRAGÉDIA SOBERANA

• Talvez nem Deus
 Possa fazer renascer a minha alegria,
 Pois são de tristeza os olhos meus
 Noturnamente e de dia...
 Como arrancar esta dor
o Encravada dentro do meu coração?
o Como esquecer-me do grande amor
o Que feneceu a minha emoção?
 E esta vida estagnada,
 Cheia de tropeços e decepções?
 O que sobrou da madrugada
 Dos meus sonhos sem ações?
 Vivo dentro de um labirinto
 Procurando sempre a mim mesmo,
 Mas não me encontro e não me sinto
 E então eu vivo a esmo...
o Os momentos me passam
o Advertindo-me da minha ociosidade;
o Mas as previsões fracassam
 No vazio fundo da minha identidade...

(por Fernando Pellisoli)


SÚPLICA

o Ó Deus dos alucinados,
 Onde encontrar guarida neste pranto
 Dos enlouquecidos ensangüentados?
o Pudesse eu ser um santo...
o Ó Deus dos apaixonados,
o Pudesse eu esquecer o encanto
o Destes amores doridos e abandonados
o Nas esquinas em um canto...
 Ó Deus dos seviciados,
 Onde abrandar o meu pobre coração
 Que sofre como os favelados?
 Sou uma prece sem oração...
 Ó Deus dos desenganados,
 Como me livrar deste meu tédio?
 Com tantos erros computados,
 Sofrer é o único remédio?
 Ó Deus dos supliciados,
 Eu quero morrer pra renascer
 Num novo corpo cheio de cuidados:
• Ser menos infeliz e viver...

(por Fernando Pellisoli)


ALEGRIA MORTA


o Acordo sempre triste
• Perguntando onde está a alegria,
• Ou onde é que tu viste
• O meu rosto que sorria?
 Não há nenhum resquício
 De alegria no âmago da minha mente,
 Pois sou fruto do vício
 Desta ingente tristeza tão-somente...
 Minha vida é só tormento
 Dilacerando o teor do meu coração,
 E o fio elétrico do sentimento
 Já estancou a minha ação...
 A alegria de um morto-vivo
 É um hospital de dores e alucinações,
 Onde no passado eu revivo
 As ilusões das minhas emoções...
o Perdi a minha alegria de viver
o Na torrente abrupta do meu vil destino,
o E hoje eu só quero morrer:
 A vida assassinou o meu menino...

(por Fernando Pellisoli)

O POETA E A DIVINDADE

o Sabes quem é Deus?
 Tens consciência da sua infinidade?
o Um irmão nunca diz adeus
o À ciência da verdade...
 Sabes quem é Deus?
 Tens consciência da sua imutabilidade?
 Os poemas – que são meus,
 São do tecido da eternidade...
 Sabes quem é Deus?
 Tens consciência da sua bondade?
 Só ele sabe o pranto do Eu(s)
 Que restaram da minha mocidade...
 E se eu sofro imensamente,
 É que estou pertinho da felicidade
 Que me espera, tão-somente,
 No verdadeiro mundo: o ESPIRITUAL!

(por Fernando Pellisoli)


ESPELHOS RETORCIDOS


o Espelhos retorcidos.
 Comícios aventureiros lastimosos
o Entre os povos inibidos.
 Olhos nervosos...
o Devaneios impertinentes.
 Saudações aglomerativas dos ventos
o Vibrando as velhas mentes.
o Resquícios de sentimentos...
 Ilusões do despotismo.
 Alucinações na luta pelo poder
 Desencadeiam o meu lirismo.
 Ninguém quer ceder...
 Visões sobrenaturais.
 Metamorfose de todas as nações
 É notícia nos jornais.
 Tremores dos corações...

(por Fernando Pellisoli)



ALEGRIAS INÚTEIS


o Inocentes criaturas,
• Amparadas nas rédeas do destino,
• São bestas incertas e impuras
o Na face de um menino...
 Gulosos sentimentos
 Atropelando a sanidade destratada,
 E os vendavais dos ventos
 Dando uma tragada...
 Reflexos perniciosos
 De um materialismo insensível,
 Onde os gestos orgulhosos
 Ultrapassam o crível...
 Alegrias – todas inúteis,
o Profanam o templo da santidade:
 Procuras tênues e fúteis
 Desviando da verdade...

(por Fernando Pellisoli)

ATUAL REALIDADE TERRENA

• Estamos todos compenetrados
• Em viver, a cada sol poente,
• Os nossos misteriosos fados.
• E a vida é uma pesada corrente...
o Vivemos perdendo os sonhos
o Em pedaços pelas calçadas.
o Os sofrimentos enfadonhos
o Escorrem pelas madrugadas...
 Não encontramos felicidade
 Porque ela não é deste mundo:
 Basta-nos aceitar a verdade
 E respirar bem neste fundo...
 A dor da vida nos é indigesta.
 É um pesadelo todo anormal,
 E uma desgraça que nos resta
• Sob o domínio EGO do Mal...

(por Fernando Pellisoli)




VIDA PÉTREA

o Estou nesta madrugada
• Escorrendo o meu sangue poético,
o Ainda que a vida pétrea esteja sempre gelada.
 Morro de tédio no meu ser patético...
 Meu silêncio é meu ingente veneno
 Resguardando as minhas emoções.
 O meu amor é ainda muito pequeno
 Nos meus advérbios e nas minhas locuções...
o Estou nesta madrugada
 Desnorteando a minha mente de rodeios,
 Pois a minha insônia é como se fosse uma tragada
• De maconha em outros meios...
 O tique-taque do meu relógio,
 Martelando o meu espírito imperfeito,
 É como se fosse um presságio
 De que no tempo material não sou aceito...
o Estou nesta madrugada,
o Espírito no cativeiro da matéria,
o Aglutinando os meus devaneios indomáveis...
• [no veneno da minha artéria...

(por Fernando Pellisoli)







SENSAÇÕES OBSCURAS


o Turbilhões de pensamentos
 Neutralizando a sanidade da alvorada.
• Risos dementes são sentimentos
o Estropiados na calçada...
o Desafetos distorcidos de tédio
o Amplificam velhas neuroses de guerra.
o Pássaros sobrevoam (sem remédio)
o Os fardos tenebrosos de terra...
 Luares pétreos distanciados
 Dos amantes encurralados nos sonhos.
 Feiticeiros tolos e enfeitiçados
 Nos próprios pesadelos risonhos...
• Flutuações de mágoas absorvidas
 Nos desenganos dementes pós-revividos.
• Insólitas beiradas de sobrevidas
 Em estrondes conviciosos dos ouvidos...
 Malícias psicodélicas do encanto
 Atravessam crateras do amor errante.
 Maldade envernizada de pranto
 Persevera o seu rumo avante...
 E o poeta canta as suas loucuras!

(por Fernando Pellisoli)






sábado, 26 de junho de 2010

DIAGNÓSTICO

o Ó
• Sou o poeta da loucura.
 Com tantas alegrias cantadas por poetas,
o Nos oceanos da beleza,
• Só me restou esta triste certeza:
 Com tantas almas impuras e inquietas,
• Porque devo cantar a perfeição?
• Sou poeta de dores destemidas,
o E tenho ingente afeição
• Pelos pormenores destas vidas
o Que sofrem com devoção.
• Amenizo as dores dos viventes
• Com as minhas elegias taciturnas,
• Pois os devaneios das mentes
o São depósitos nas urnas
 Da etérea poesia...

(por Fernando Pellisoli)


DESILUSÃO AMOROSA

o Amei-te como um Deus
• Que ama a sua preferida Deusa;
Mas tu me disseste adeus,
• E me restou à feiosa da Edileusa...
o Amei-te como a minha rainha
o Dando-te todos os caprichos e vinho;
o Mas a minha tristeza vinha,
o Ruidosamente, me deixar sozinho...
 Amei-te como uma santa
 Em preces ocultas e devolutas;
 Mas a tua alma que me encanta
 Afugentou-se das nossas lutas...
o Amei-te como uma puta
o Deleitando-te no gozo sensual;
o Mas o aconchego da tua gruta
o Era o princípio do meu mal...
 E nasceu o poeta da LOUCURA!

(por Fernando Gomes)

CORRIMÕES DE FOGO

• Acendam todas as lamparinas.
 Iluminem os corredores dos labirintos.
• E não se esqueçam de suas sinas
• Dependuradas nos seus absintos...
o Naveguem as naves multicoloridas.
o Destravem os seus silêncios encorpados.
o Mas não se esqueçam de suas vidas
o Em movimentos débeis e desocupados...
 Desvelem os seus próprios venenos.
 Insiram pós-metodologias agonizantes
 Nos seus pulmões de tédio pequenos.
 Deglutam os poemas lancinantes...

(por Fernando Pellisoli)


CONFIANÇA

 Creia na tua intuição
 - estando diante de um impasse,
 Vibre a etérea missão antes que transpasse...

 Aposte na tua confiança
 De crer no mundo – ainda que indefinido.
 A minha poesia é uma esperança,
 E Deus há de ter permitido...
 Invista na minha poesia,
 Ainda que esteja carregada de ingente melancolia,
 Pois é, justamente, distante da alegria
 Que o espírito depura a anomalia...

(por Fernando Pellisoli)



A MINHA SINCERIDADE

Eu escrevo o que sinto:
 Não é necessariamente o teu sentir;
 Mas não minto nas entranhas insólitas do porvir.
 Eu me sinto na imaginação
 Numa poesia dilacerada e toda adversa...
 E dôo o meu coração nas linhas que o poema versa.
 A minha alma é poesia
 Rasgando o ventre em construção.
 Eu versifico mais tristeza na minha instrução.
 E descrevo as emoções
 Nos meus temores de necessidade:
 Eu sou um poeta louco vegetando
• [na minha cidade...

(por Fernando Pellisoli)


IRMANDADE

O amor sem fronteiras
 Atravessa as barreiras do som
 Na altivez das palmeiras sendo bom.
 Somos filhos do mesmo pai
 - irmãos de alma e de coração:
 O espírito vem e vai como prece na oração.
 O amor é uma ilha,
 E nós somos os seus náufragos
 Nesta filosofia do não Ser...

(por Fernando Pellisoli)

LOUVORES INSCIENTES

As bocas oprimem
 Os elos das gargantas repelentes...
 As vozes comprimem sugados louvores inscientes.
 Estes corações decepados
 Derramam lágrimas ensangüentadas.
 Os homens apaixonados deglutiram-se com facadas...
 Estas desgraças aviltantes
 Invadem os mundos inferiores;
 Mas as cigarras cantantes não sentem dores.
 Estes espetáculos adversos
 Descrevem a malícia desta vida
 - na pena dos meus versos
 [a viagem é pressentida...

(por Fernando Pellisoli)



VERSOS MADRUGADORES

 Versos madrugadores
 Esmurrando o caos absoluto
 Como uma tempestade de dores
 E um poeta triste de luto

 Versos madrugadores
 Desenhando imagens distorcidas
 Como vidraças de esplendores
 Estilhaçando muitas vidas

 Versos madrugadores
 Descrevendo paisagens nervosas
 Como vendavais perseguidores
 Arrastando muitas rosas

 Versos madrugadores
 Inventando ilógicas persistentes
 Como um palco cheio de flores
 Debulhando suas sementes

 Versos madrugadores
 Soprando mágoas entaladas
 Nas almas dos perdedores
 Nos silêncios das madrugadas

(por Rafael Gafforelli)




CONVERSA POÉTICA

 Quero falar em ti
 Que estás a me escutar
 E descobrir os teus caminhos

 Quero falar em ti
 Que nasceu para encantar:
 Desbravar os teus cânticos encantados
 Só para poder te amar

 Quero falar em ti
 Que só vives para trabalhar:
 Reconstruir a tua vida no alvo estrelado

 Quero falar em ti
 Que estás a me desfrutar:
 Ó meu povo alegre e madrugador
 Que não deixa o teu sonho naufragar!

 Quero falar em ti
 Que nasceu para chorar:
 Carregas o teu crucifixo de mártir

 Quero falar em ti
 Que nasceu numa manjedoura...

(por Rafael Gafforelli)




VIM PARA REVOLUCIONAR

 Vim para revolucionar
 Digam ao meu povo que estou aqui
 E sou um ventilador soltando merda pelo ar

 Vim para revolucionar
 Digam ao meu povo para sorrir
 E sou uma britadeira perfurando o mar

 Vim para revolucionar
 Digam ao meu povo para se unir
 E sou a regeneração visionada pelo meu cantar

 Vim para revolucionar
 Digam ao povo que estou pronto
 E sou o poeta da loucura cheio de escorregar

 Vim para revolucionar
 Digam ao meu povo que estou atento
 E sou uma matilha de cães farejando destratar

 Vim para revolucionar
 Digam ao meu povo que eu sofro
 E sou um vendaval de vozerio a me rodopiar

(por Rafael Gafforelli)




SILÊNCIOS TUBERCULOSOS

Os meus distúrbios orgânicos
 São flores despetaladas contra o vento.
 E meus versos são mil pânicos!

 Desfaço das rédeas do fracasso
 Como a flechada de um índio certeiro.
 E nos pés de lama eu amasso
 As cartas inúteis de um carteiro...

 Os meus silêncios tuberculosos
 São vasos quebrados da crestadeira
 Nos meus dilemas musculosos...

 Refaço os móveis da tragédia
 Como um marceneiro tresloucado
 (que depois de fazer muita média)
 Não termina ao preço combinado

 Os meus poemas dilacerados
 São vozes de um povo acomodado
 Nos deslizes transpassados...

 Despedaço os meus sonhos ilhados
 Como uma cachoeira sobre os penhascos!

(Rafael Gafforelli)




TRISTEZA ANCORADA

 O meu taciturno poema
 É apenas um grão de areia
 A minha alma em estilo de Ipanema
 É esta poesia que me sai da veia

 O meu taciturno poema
 É uma fruta podre jogada ao chão
 E o meu amor não se chama Iracema
 E tem este gosto de salsichão

 O meu taciturno poema
 É apenas uma vertigem de alegria
 E o meu visual é de cinema
 E o meu coração uma sangria

 O meu taciturno poema
 É apenas um ruído desolado
 Sou poeta vanguardista no sistema
 E carrego a tristeza do lado

 O meu taciturno poema
 É uma folha triste desfolhada
 E ter que viver é o meu dilema
 E sinto saudade da amada

(Fernando Gomes)

IMAGENS ESTERIOTIPADAS

 As minhas imagens neuróticas
 Arremessando os meus sentidos sombrios
 Como cavernas negras esquecidas
 Invadidas pelos meus riachos

 Os meus destroços emocionais
 Invadidos pela ganância oceânica
 Como vertigens asiáticas egocêntricas
 Controlando a minha maluquice

 As minhas dúvidas existenciais
 Moldurando os meus castelos de areia
 Como o silêncio das artes plásticas
 Preparando a minha vil sina

 Os meus sonhos destruídos
 Navegando na escuridão dos oceanos
 Como os meus restos mortais transfigurados
 Todos transformados em silêncio

 As minhas loucuras escarpadas
 Cruzando as constelações do horizonte
 Como visões sutis tropicalistas
 Escalando as colinas do meu esôfago

(por Fabiano Montouro)




ATRAVESSANDO FRONTEIRAS

 Os meus valores maduros
 Transcendem da vã filosofia
 E os meus olhos vistosos já são adultos
 Nesta teosofia pré-histórica

 Carrego o peso da desgraça
 Como o vento soprando folhas espalhadas
 E minha alma imponente e garrida
 Versifica poemas nas entrelinhas

 Os meus segredos espirituais
 São cascatas descendo a ribanceira
 E dos ensinamentos teosóficos
 No espiritismo tenho a mente alerta

 Navego noutros mundos
 Como estas naves extraterrestres
 Que nos observam com olhos angustiantes
 À ignorância dos humanos

 Creio na reencarnação
 Como um discípulo da eternidade
 E atravesso os horizontes das nebulosas
 Pra despertar o meu espírito

(por Rafael Gafforelli)



ABUSIVOS IMPLOSIVOS

Quero me descrever
 No despir-me das desgraças
 E desbravar algo mais que as emoções

 Salvar o meu povo
 Dos abusivos implosivos da fé...

 Quero me descrever:
 Pintar a minha ânsia de aviso
 Nos escombros da morte pressentida

 Alertar o meu povo
 Que o poder está em suas mãos

 Quero me escrever
 Nos suspiros de coisas ecléticas
 Entalando as poéticas desestruturadas

 Despertar o meu povo
 Ao véu regenerativo do planeta

 Quero me descrever
 E desenhar angústias reprimidas
 Escandalizando os berçários dos tédios

(por Rafael Gafforelli)




sexta-feira, 25 de junho de 2010

ANUNCIANDO MUDANÇAS

 Os meus humildes versos
 São trombetas anunciando verões.
 Como o infinito das galáxias,
 Sou clarões nas estrelas

 Venho anunciar mudanças
 Nestes dias cegos de tempestades:
 Salvem todos os vilarejos
 Que o futuro é dos vanguardeiros!

 Os meus humildes versos
 São falanges de espíritos venturosos
 Anunciando os segredos ilhados
 Dos maus políticos velhacos

 Venho anunciar mudanças
 Nestes torpedos da eternidade.
 E no ritmo alucinante dos ventos,
 Uma grande viva ao ribeirão!

 Os tempos estão chegando.
 E as luzes divinas são presentes
 Como o mar que venho cosendo
 À liberdade de nossa pátria

(por Rafael Gafforelli)




POLITICAGEM NOJENTA

Em tabernas obscuras
 Políticos enganam o meu povo
 E as mulheres de peles claras
 São sardinhas misturadas com alho

 Em lugares obscenos
 Políticos afogam os seus gansos
 E as mulheres de seios grandes
 São felpas nos meus bugalhos...

 Nos bordéis das cafetinas
 Políticos são farelos do mesmo saco
 Estuprando as pobres ninfetas
 Enquanto os meninos cheiram cola

 Nos destroços noturnos
 Políticos desfilam despreocupados
 Como policiais de vinhetas
 Na vigilância das massas adormecidas...

 Em meus versos ferozes
 Políticos são abutres carniceiros
 E os poetas com seus versos brancos
 Desmascaram os velhacos

(por Rafael Gafforelli)




VERSOS AGONIZANTES

A impiedade dos poderosos
 Nos sofridos braços dos trabalhadores
 Na trituradora do orgulho duma avalanche cruel

 As vibrações satânicas
 São serpentes deslizando nos mares
 E as mãos vulcânicas explodindo ventanias tênues

 A coerção dos direitos
 Nesta prisão de versos assassinos
 E os réus profanos não passam de adolescentes...

 As mansões infernais
 Como a louca luxúria faz sua morada
 E os desesperados carnais roubam o povo lacrimoso

 Ó libertem o meu povo
 Seus vermes carnívoros de meninas puras
 E eu vomito de novo na escuridão de vossas mentes!

(por Rafael Gafforelli)

DESEJOS DE LIBERDADE

Desejos de liberdade
 São vôos politizados democráticos
 Nos embalos da mocidade em sonhos irados

 Desejos de liberdade
 São andorinhas buscando outonos
 E sorvendo na cidade montanhas de solidões

 Desejos de liberdade
 São construções pós-ecológicas
 E sem necessidade de desviar do chauvinismo

 Desejos de liberdade
 São abraços da esperança verdejante
 E fios brancos da idade dispersos na madrugada

 Desejos de liberdade
 São os meus versos vanguardeiros
 Clamando a piedade aos trabalhadores dormentes...

(por Rafael Gafforelli)






MEU MUNDO NOVO

 Quero ver o meu povo
 Como um esplendor primaveril
 Inovando a esperança da Terra

 Quero ver o meu povo
 Como uma flecha perfurando montanhas
 E no político jogarei meu lodo

 Quero ver o meu povo
 Como os mares penetrando os seus oceanos
 E minha maré tragando maresia...

 Quero ver o meu povo
Como uma estrela rutilando no infinito
 Onde no pensamento me ensaio

 Quero ver o meu povo
 Como um exército romântico de glórias
 Onde no espelho me reconstruo

 Quero ver o meu povo
 Como o rei do poder democrático
 Anunciando o pacifismo de um mundo novo

(por Rafael Gafforelli)




MINHAS CONVULSÕES

As minhas convulsões
 São invisíveis fronteiras dos selvagens:
 Tresloucadas paixões na pena dos meus versos!

 Os assassinos de meninas
 São chamas incendiando esperanças
 E as verdades minhas são desgraças de angústias

 As politicagens desonestas
 São serpentes venenosas assassinas
 E o nosso suor das testas abre valas nas olheiras...

 Os sinos das ilusões
 Nesta presciência dos pobres humildes
 Doando blusões pra sustentar o ouro dos anéis...

 Os estilhaços caudilhos
 São perfis das emoções de um povo
 E as flechas convulsas na morte sorvendo sonhos?

(por Rafael Gafforelli)